terça-feira, 29 de maio de 2012

Resenha do Livro Sergipe Provincial II: (1840/1889)


  Sobre a autora:
         Maria Thetis Nunes nasceu em Itabaiana, no dia 06 de janeiro de 1925, na cidade cursou apenas a escola primária. A escola secundária fez na Capital sergipana, no Atheneu Sergipense. Formou-se em Geografia e História na primeira turma da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, aos 22 anos de idade, e em Museologia no Museu Histórico Nacional, sendo que em ambas obteve a primeira colocação.
      Defendendo a tese, quando estudante universitária, Os Árabes: sua influência na civilização ocidental, e por concurso em 1945 tornou-se professora catedrática do Atheneu Sergipense, se tornando a primeira mulher a fazer parte de sua Congregação. A partir daí trabalhou dando aulas e dirigindo o Atheneu Sergipense até a sua mudança para o Rio de Janeiro como estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – o ISEB. Depois do Rio de Janeiro trabalhou na Argentina como Adida Cultural do Brasil, na cidade de Rosário.
         Ao retornar a Sergipe voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou em 1968 tornando-se professora titular de História do Brasil, História Contemporânea e Cultura Brasileira. Na qualidade de década da UFS, por duas vezes ocupou a Vice-Reitoria. Aposentada com 47 anos de magistério recebeu o título de Professora Emérita.
Foi membro do Conselho Estadual de Educação de 1970 a 1981, e do Conselho Estadual de Cultura de 1982 a 1994, sendo sua presidente por seis anos. Foi ainda, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por 30 anos. Ocupando cadeira  na Academia Sergipana de Letras. Recebeu inúmeras condecorações, entre elas a Medalha de Mérito Cultural Inácio Joaquim Barbosa e a Medalha de Mérito Serigy, ambas concedidas pela Prefeitura de Aracaju.
Falece do dia 25/10/2009, aos 86 anos de idade, deixando um legado importante para o Estado. Considerada por muitos como uma das mulheres de maior destaque na História de Sergipe, devido a sua valiosa contribuição nos campos da literatura e do magistério, já que trabalhou como professora e pesquisadora ininterruptamente durante 63 anos. 

Sobre o Livro:
         Sergipe Provincial II estuda o período da história de Sergipe a partir do golpe da Maioridade de Pedro II, em 25 de julho de 1840, encerrado em 15 de novembro de 1889 como golpe militar proclamando a República. Conclui-se, assim, que a história de Sergipe provincial é iniciada com a publicação, em 1978, da História de Sergipe a partir de 1820, seguida de Sergipe Provincial I.
Essa etapa da vida sergipana é marcada por visíveis transformações socioeconômicas que se compreendem correlacionadas às que ocorriam no país atrelando-se, segundo a autora, ao capitalismo em ascensão no mundo ocidental. A abolição do tráfico escravo, em 1850, ocasionando o crescimento do trabalho livre, o desenvolvimento da industrialização, dos meios de transporte, do comércio, a importância do sistema bancário, trariam grandes alterações na estrutura social brasileira até então assentada na economia agrária, no senhor de terra, como o crescimento da vida urbana e do status médio da população, impulsionando o progresso da educação, das letras e das artes. A província de Sergipe alcançou essas transformações, sua população praticamente duplica do período de 1839 a 1890. E com a abolição da escravidão há um aumento de trabalhadores livres. Cresce ainda o número de engenhos movidos a vapor e é criada a primeira indústria têxtil, Sergipe Industrial, em 1882, empregando incialmente quatrocentos operários.
O livro é composto por dez capítulos. No primeiro, Panorama Econômico de Província de Sergipe no Segundo Império vemos que após a conquista de Sergipe, no final do século XVI, realizada por Cristóvão de Barros, a criação de gado tornou-se a principal atividade econômica dos colonizadores. A ocupação das terras passou a realizar-se em função do gado nas áreas situadas entre o Rio Real até o São Francisco durante os séculos subsequentes. Somente algumas pessoas possuíam privilégios na escolha das terras da capitania sergipana: o senhor da Casa da Torre, descendentes e agregados. Garcia d’Ávila e seus herdeiros foram reconhecidos como colaboradores da construção da nação e tal empreitada fora entendida, por alguns pesquisadores, como uma ação dos bandeirantes. Convém observar que a maioria dos colonizadores de Sergipe se constituía de homens comuns pobres, aventureiros e gente de toda a espécie que faziam uso da mão de obra familiar e do trabalho indígena o que tornava tensas as relações nesse período.
Com os capítulos seguintes percebemos como o século XVII foi marcado pelo domínio luso-espanhol na capitania de Sergipe, dando continuidade à ocupação do seu território dominado pelos tupinambás. A apropriação de terras perto dos rios para a criação do gado e a produção de alimentos fortaleceu a colonização do território o que foi amplamente reforçado, mais tarde, pelo Estado, conjuntamente com a igreja por intermédio da elaboração das regras sociais, morais e na imposição de poder. São Cristóvão teve um papel importante no período colonial em Sergipe, a partir desse povoamento se empreendeu a conquista de outras áreas e os primeiros alicerces da expansão da cristandade.
         A Câmara passou a ser uma representação da luta de poder dos criadores de gado e senhores de terra ao lado dos representantes do governo da Bahia e da Coroa portuguesa. A cidade de São Cristóvão e as vilas tornaram-se espaços, também, do potentado rural. Essa ocupação do espaço pelos senhores de gado e da agricultura demonstra a importância dos núcleos de povoamento no período colonial. Dando continuidade ao processo de colonização de Sergipe tem-se nos séculos XVIII e XIX a independência da Bahia, o que ocasionou diversas reações da elite sergipana.
          A cana de açúcar trouxe prosperidade econômica para a Cotinguiba sendo que Laranjeiras tornou-se um dos núcleos que mais se destacou na região. A necessidade da construção de um porto era evidente devido ao escoamento da produção e atendendo a esse interesse Inácio Barbosa transfere a capital de Sergipe em 1855, de São Cristóvão para as praias de Aracaju. Alguns autores concordam que muitos outros fatores levaram a essa mudança, um deles é o desejo da elite em ter uma nova capital para atender as necessidades de uma província em crescente desenvolvimento.
           A sociedade da Cotinguiba contou além do engenho e da elite branca, com a presença marcante dos negros. Pode-se destacar, entretanto o trabalho braçal e a luta pela liberdade como traços marcantes desse povo em Sergipe. Constam-se registros em que se descrevem as lutas de resistência especialmente nos pequenos quilombos, conhecidos como mocambos. Também constam como parte da sociedade do açúcar os mestiços, os índios e as mulheres: os primeiros eram vistos como a escória da sociedade, os segundos foram declarados extintos em Sergipe e por ultimo as mulheres tidas como objetos dos interesses familiares e só posteriormente conseguiram conquistar um espaço na sociedade.  
            Na presidência do Dr. Inácio Joaquim Barbosa iniciou em 1855 um projeto modernizador das elites o que foi amplamente trabalhado nas décadas de 1910 a 1930. Nos anos iniciais do século XX, Aracaju foi recebendo um contingente significativo de pessoas de posses e ao mesmo tempo uma elite mais escolarizada passou a residir na capital, contribuindo para fomentar melhorias no aspecto físico da cidade.
            A necessidade de encontrar a identidade brasileira, sua individualidade e especificidade diante dos outros países fomentou o comportamento de nossos intelectuais. Ao parodiar que “nossa terra tem “Tobias”, “Fausto” etc. a elite sergipana compartilhava esse desejo, identificando a identidade sergipana na figura dos homens “ilustres”.
          A transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju devido a fatores já vistos possibilitou a centralização da economia no que se denomina “quadrado de Pirro”. Esse processo empurrou para a margem do quadrado os homens pobres e esse fenômeno deu início a uma nova realidade advinda da modernização. As fábricas de tecido exploravam a mão de obra e contribuíam com o quadro de miséria que se formava  ao redor da cidade.
           As consequências da modernização pareciam inevitáveis, ordem pública não funcionava do ponto de vista legal para atender a população. As comarcas, as delegacias e casas de prisões serviam para os interesses pessoais. Diversos conflitos e confrontos existiram no cotidiano dessas instituições, afetando o bom andamento da lei e da ordem. O uso da violência foi corriqueiro por parte dos potentados rurais, que queriam controlar essas instâncias para seus interesses particulares.
       Por fim, o último capítulo trata sobre a educação em Sergipe sempre esteve estreitamente ligada à estrutura econômica das classes sociais. Cada momento histórico é refletido através das artes e da Literatura e reflete os anseios dessas classes. As obras de autores ilustres como Tobias Barreto refletem com as limitações do romantismo a realidade dos escravos, Silvio Romero retratou o império em suas obras e vários outros jornalistas, juristas, artistas, musicistas que fizeram parte da historia de Sergipe e corroboram para a importância deste Estado para a formação da identidade de nosso país.



Referências:

IHGB. Dicionário Biográfico < http://www.ihgb.org.br/dicbio.php?id=00018>. Último acesso em 28/05/2012.

NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II: (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas em História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.

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