Sobre a autora:
Maria Thetis Nunes nasceu em Itabaiana, no dia 06 de
janeiro de 1925, na cidade cursou apenas a escola primária. A escola secundária
fez na Capital sergipana, no Atheneu Sergipense. Formou-se em Geografia e
História na primeira turma da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da
Bahia, aos 22 anos de idade, e em Museologia no Museu Histórico Nacional, sendo
que em ambas obteve a primeira colocação.
Defendendo a tese, quando estudante universitária, Os Árabes: sua influência na civilização
ocidental, e por concurso em 1945 tornou-se professora catedrática do
Atheneu Sergipense, se tornando a primeira mulher a fazer parte de sua
Congregação. A partir daí trabalhou dando aulas
e dirigindo o Atheneu Sergipense até a sua mudança para o Rio de Janeiro como
estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – o ISEB. Depois do Rio
de Janeiro trabalhou na Argentina como Adida Cultural do Brasil, na cidade de
Rosário.
Ao retornar a Sergipe voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade
Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde
ingressou em 1968 tornando-se professora titular de História do Brasil,
História Contemporânea e Cultura Brasileira. Na qualidade de década da UFS, por
duas vezes ocupou a Vice-Reitoria. Aposentada com 47 anos de magistério recebeu
o título de Professora Emérita.
Foi membro do Conselho Estadual de Educação de 1970 a 1981, e do
Conselho Estadual de Cultura de 1982 a 1994, sendo sua presidente por seis
anos. Foi ainda, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por
30 anos. Ocupando cadeira na Academia
Sergipana de Letras. Recebeu inúmeras condecorações, entre elas a Medalha de
Mérito Cultural Inácio Joaquim Barbosa e a Medalha de Mérito Serigy, ambas
concedidas pela Prefeitura de Aracaju.
Falece do dia 25/10/2009, aos 86 anos de idade, deixando um legado
importante para o Estado. Considerada por muitos como uma das mulheres de maior
destaque na História de Sergipe, devido a sua valiosa contribuição nos campos
da literatura e do magistério, já que trabalhou como professora e pesquisadora
ininterruptamente durante 63 anos.
Sergipe
Provincial II estuda o período da história de Sergipe a partir do golpe da
Maioridade de Pedro II, em 25 de julho de 1840, encerrado em 15 de novembro de
1889 como golpe militar proclamando a República. Conclui-se, assim, que a
história de Sergipe provincial é iniciada com a publicação, em 1978, da História de Sergipe a partir de 1820,
seguida de Sergipe Provincial I.
Essa etapa da vida sergipana é marcada por
visíveis transformações socioeconômicas que se compreendem correlacionadas às
que ocorriam no país atrelando-se, segundo a autora, ao capitalismo em ascensão
no mundo ocidental. A abolição do tráfico escravo, em 1850, ocasionando o
crescimento do trabalho livre, o desenvolvimento da industrialização, dos meios
de transporte, do comércio, a importância do sistema bancário, trariam grandes
alterações na estrutura social brasileira até então assentada na economia
agrária, no senhor de terra, como o crescimento da vida urbana e do status médio da população, impulsionando
o progresso da educação, das letras e das artes. A província de Sergipe
alcançou essas transformações, sua população praticamente duplica do período de
1839 a 1890. E com a abolição da escravidão há um aumento de trabalhadores
livres. Cresce ainda o número de engenhos movidos a vapor e é criada a primeira
indústria têxtil, Sergipe Industrial,
em 1882, empregando incialmente quatrocentos operários.
O livro é composto por dez capítulos. No primeiro, Panorama Econômico de Província de Sergipe no Segundo Império vemos
que após a conquista de Sergipe, no final do século XVI, realizada por
Cristóvão de Barros, a criação de gado tornou-se a principal atividade
econômica dos colonizadores. A ocupação das terras passou a realizar-se em
função do gado nas áreas situadas entre o Rio Real até o São Francisco durante
os séculos subsequentes. Somente algumas pessoas possuíam privilégios na
escolha das terras da capitania sergipana: o senhor da Casa da Torre, descendentes
e agregados. Garcia d’Ávila e seus herdeiros foram reconhecidos como colaboradores
da construção da nação e tal empreitada fora entendida, por alguns
pesquisadores, como uma ação dos bandeirantes. Convém observar que a maioria
dos colonizadores de Sergipe se constituía de homens comuns pobres,
aventureiros e gente de toda a espécie que faziam uso da mão de obra familiar e
do trabalho indígena o que tornava tensas as relações nesse período.
Com os capítulos seguintes percebemos
como o
século XVII foi marcado pelo domínio luso-espanhol na capitania de Sergipe,
dando continuidade à ocupação do seu território dominado pelos tupinambás. A
apropriação de terras perto dos rios para a criação do gado e a produção de
alimentos fortaleceu a colonização do território o que foi amplamente
reforçado, mais tarde, pelo Estado, conjuntamente com a igreja por intermédio
da elaboração das regras sociais, morais e na imposição de poder. São Cristóvão
teve um papel importante no período colonial em Sergipe, a partir desse
povoamento se empreendeu a conquista de outras áreas e os primeiros alicerces
da expansão da cristandade.
A Câmara passou a ser uma representação da
luta de poder dos criadores de gado e senhores de terra ao lado dos
representantes do governo da Bahia e da Coroa portuguesa. A cidade de São
Cristóvão e as vilas tornaram-se espaços, também, do potentado rural. Essa
ocupação do espaço pelos senhores de gado e da agricultura demonstra a
importância dos núcleos de povoamento no período colonial. Dando continuidade
ao processo de colonização de Sergipe tem-se nos séculos XVIII e XIX a independência
da Bahia, o que ocasionou diversas reações da elite sergipana.
A cana de açúcar trouxe prosperidade econômica
para a Cotinguiba sendo que Laranjeiras tornou-se um dos núcleos que mais se
destacou na região. A necessidade da construção de um porto era evidente devido
ao escoamento da produção e atendendo a esse interesse Inácio Barbosa transfere
a capital de Sergipe em 1855, de São Cristóvão para as praias de Aracaju.
Alguns autores concordam que muitos outros fatores levaram a essa mudança, um
deles é o desejo da elite em ter uma nova capital para atender as necessidades
de uma província em crescente desenvolvimento.
A sociedade da Cotinguiba contou
além do engenho e da elite branca, com a presença marcante dos negros. Pode-se
destacar, entretanto o trabalho braçal e a luta pela liberdade como traços
marcantes desse povo em Sergipe. Constam-se registros em que se descrevem as
lutas de resistência especialmente nos pequenos quilombos, conhecidos como
mocambos. Também constam como parte da sociedade do açúcar os mestiços, os
índios e as mulheres: os primeiros eram vistos como a escória da sociedade, os
segundos foram declarados extintos em Sergipe e por ultimo as mulheres tidas
como objetos dos interesses familiares e só posteriormente conseguiram
conquistar um espaço na sociedade.
Na presidência do Dr. Inácio Joaquim
Barbosa iniciou em 1855 um projeto modernizador das elites o que foi amplamente
trabalhado nas décadas de 1910 a 1930. Nos anos iniciais do século XX, Aracaju
foi recebendo um contingente significativo de pessoas de posses e ao mesmo
tempo uma elite mais escolarizada passou a residir na capital, contribuindo
para fomentar melhorias no aspecto físico da cidade.
A necessidade de encontrar a identidade
brasileira, sua individualidade e especificidade diante dos outros países
fomentou o comportamento de nossos intelectuais. Ao parodiar que “nossa terra
tem “Tobias”, “Fausto” etc. a elite sergipana compartilhava esse desejo,
identificando a identidade sergipana na figura dos homens “ilustres”.
A transferência da capital de São Cristóvão
para Aracaju devido a fatores já vistos possibilitou a centralização da
economia no que se denomina “quadrado de Pirro”. Esse processo empurrou para a
margem do quadrado os homens pobres e esse fenômeno deu início a uma nova
realidade advinda da modernização. As fábricas de tecido exploravam a mão de
obra e contribuíam com o quadro de miséria que se formava ao redor da cidade.
As consequências da modernização pareciam
inevitáveis, ordem pública não funcionava do ponto de vista legal para atender
a população. As comarcas, as delegacias e casas de prisões serviam para os
interesses pessoais. Diversos conflitos e confrontos existiram no cotidiano
dessas instituições, afetando o bom andamento da lei e da ordem. O uso da
violência foi corriqueiro por parte dos potentados rurais, que queriam
controlar essas instâncias para seus interesses particulares.
Por fim, o último capítulo
trata sobre a educação em Sergipe sempre esteve estreitamente ligada à
estrutura econômica das classes sociais. Cada momento histórico é refletido
através das artes e da Literatura e reflete os anseios dessas classes. As obras
de autores ilustres como Tobias Barreto refletem com as limitações do
romantismo a realidade dos escravos, Silvio Romero retratou o império em suas
obras e vários outros jornalistas, juristas, artistas, musicistas que fizeram
parte da historia de Sergipe e corroboram para a importância deste Estado para
a formação da identidade de nosso país.
Referências:
IHGB. Dicionário Biográfico < http://www.ihgb.org.br/dicbio.php?id=00018>.
Último acesso em 28/05/2012.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II: (1840/1889). Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas em História de Sergipe II. São Cristóvão:
Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.
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