segunda-feira, 28 de maio de 2012

Relatório do I Seminário sobre alimentos e manifestações culturais tradicionais


Entre os dias 21 e 23 de maio, do presente ano, ocorreu na Universidade Federal de Sergipe, o I Seminário sobre alimentos e manifestações culturais tradicionais, organizado pelo GRUPAM (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alimentos e Manifestações Culturais Tradicionais), do Departamento de Geografia. Tendo como coordenadora geral a Profª Drª Sônia de Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS), e como comissão organizadora o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo de Souza (DHI/UFS), Prof. Doutorando Christian Jean-Marie Boudou (DGE/UFS), Eng. de Alimentos e Doutoranda Fabiana Thomé da Cruz (PGDR/UFRGS), Profª Drª Rosana Eduardo S. Leal (NTU/UFS) e Profª Drª Sônia de Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS).
O Seminário teve por objetivo refletir sobre os desafios que estão sendo vivenciados para a manutenção da produção de diversos alimentos tradicionais e de outras manifestações culturais na contemporaneidade. E discutir a valorização de temáticas que envolvem alimentos e manifestações tradicionais referindo-se também a valorização de personagens, atuantes, fato que exige maior atenção sobre o olhar do professor-pesquisador.
No primeiro dia, a palestra ministrada pela Profª Drª Ellen Fensterseifer Woortmann (UNB), foi sobre a importância do papel da pesquisa e do ensino na valorização dos alimentos e demais manifestações culturais tradicionais na contemporaneidade.
A temática da mesa redonda do segundo dia foi sobre “O alimento como manifestação cultural e reprodução social e econômica nos territórios” tendo como coordenador o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza (DHI/UFS). A primeira palestrante foi Luzineide Carvalho Dourado – Drª  em Geografia – cuja temática abordada foi sobre a importância da natureza semi-árida. Concluimos ao término de sua palestra que o semi-árido é também um lugar bom para se viver, e que ele produz a interação natureza, território e cultura.
A segunda palestrante foi Fabiana Thomé da Cruz – Doutoranda em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS) – ela dividi sua palestra em quatro, principais pontos, 1º Emergência da valorização do alimento tradicional; 2º O que são alimentos tradicionais?; 3º Problematizando o movimento de valorização de alimentos tradicionais e 4º Reconhecimento e legitimação de alimentos tradicionais.
No primeiro ponto ela faz uma comparação de alimentos industrializados com os artesanais e utiliza como exemplo o pão feito por sua avó e um comprado em supermercado, um dos itens de comparação é a quantidade de produtos necessários para fazê-los, sendo que o industrializado necessita de mais produtos que o “caseiro”. No segundo ponto ela se ampara na teoria de Giddens sobre o “caráter repetitivo da tradição” para uma possível definição. Nesse sentido os alimentos tradicionais são aqueles cujo caráter se baseia na produção manual e a respeito do seu contexto é produzido geralmente por famílias, sendo que apesar de mudanças, como o passar do tempo, a receita preserva ingredientes da “original”. Sobre o terceiro ponto vemos que esse tipo de alimento não é reconhecido e legitimado em sua amplitude. E que para atingir a requisitos do industrial é necessário altos recursos. Com o quarto ponto percebemos que é necessário reconhecer todas as etapas da produção dos alimentos tradicionais pois, dessa forma “valorizaremos os saberes e fazeres” dos produtores.
A última palestrante do dia foi Maria de Fátima Farias Lima – Msc. em Sociologia (UFC) – antes de começar sobre o “Projeto Comida Ceará” ela nos mostra uma apresentação áudio-visual sobre o mesmo. Nesta vemos como foi a visita aos municípios e como o Projeto se procedia. A seguir ela começa a falar sobre o Projeto iniciado em 2008 e que em 2011 teve uma pausa temporária, para que fizessem organização dos dados colhidos e refletissem sobre os mesmos. Foram mais de sessenta e três municípios visitados, isto é, mais de cem localidades. Tendo como objetivo uma reflexão sobre os significados que a alimentação cultural possui, visando uma maior compreensão sobre a importância dessas manifestações.
No decorrer de sua palestra fala sobre a metodologia utilizada e os problemas enfrentados na pesquisa de campo, que vai desde a disponibilidade de recursos à comunicação com as pessoas entrevistadas. Com esta palestra vemos desde as tecnologias de produção; procedimentos de purificação; saberes tradicionais e normas sanitárias; técnicas de transformação do alimento; instrumentos de cozinha; sensibilidade culinária; ritos; crenças; simbologias; memória e afetividade são características, praticamente, exclusivas  desta alimentação cultural e que há uma necessidade de reconhecer esses processos para que não caiam no esquecimento, tendo seu valor reconhecido.
Ao término das palestras deste dia 22 de maio de 2012, o coordenador da Mesa, Prof. Dr. Antônio Lindvaldo de Souza, antes de abrir espaço para o debate, faz observações sobre a temática relacionando com o campo da História, já que esta necessidade de valorização dos “sujeitos”, isto é, dos agentes responsáveis por esse tipo de alimentação cultural sejam reconhecidos nos remetem à importância memória, que para o historiador, aliás, que para qualquer pesquisador é extremamente essencial.
O terceiro e último dia do Evento teve como temática “As políticas e os movimentos de valorização das manifestações culturais no Brasil”, tendo como coordenador da Mesa Redonda Christian Jean-Marie Boudou (DGE/UFS). A primeira palestrante foi Maria Augusta Mundim Vargas – Drª em Geografia – ela começa falando sobre o papel do Estado, do IES e do próprio geógrafo na problematização sobre as manifestações culturais e acredita que o papel deste último seja de “mergulhar” na interdisciplinaridade da abordagem cultural, sendo que ainda assumiria papel de mediador e de parceiro com a sociedade.
Ela comenta sobre a difícil interpretação das políticas, sobre as desconexões temporais e sobre como a dinâmica da produção da(s) cultura(s) põe em discussão certas competências. Fala sobre a importância da preservação do passado para proteção do futuro. E a respeito dos arranjos de política de Estado – interpenetrações, conexões, visibilidade e informação – neste sentido dá o exemplo do projeto Procultura. Este tem por objetivos analisar o uso e a valorização das festas populares a partir das paisagens culturais de Góias, Ceará e Sergipe; refletir sobre as políticas culturais e o sentido político, econômico e social das políticas culturais desenvolvidas por parte de cada secretária estadual; fortalecer linhas de pesquisa sobre espaço e práticas culturais em programas de pós graduação, em Geografia, nas universidades dos três estados citados. Por fim ela comenta sobre a importância das festas tradicionais, diferenciando a divulgação das festas juninas e as festividades em torno do ciclo natalino.
Claúdia Marina Vasques – representante do IPHAN – foi a segunda palestrante do dia. Ela inicia falando sobre os principais objetivos do IPHAN, que seria a proteção e a garantia de continuidade de bens culturais sob ameaça real ou potencial; a valorização e a visibilidade de bens culturais considerados referências para a comunidade ou grupos específicos; e implantação da política de salvaguarda do patrimônio imaterial, como por exemplo, as comidas.
A seguir ela fala sobre os instrumentos que podem ser utilizados na preservação de determinado, local, rito, enfim cita o tombamento e a chancela de paisagem cultural como possíveis métodos de preservação, sendo que, o tombamento diferencia do segundo no sentido de que garante a proteção, por leis, para o bem que foi tombado.
A última palestra do dia foi de Cênia Sales – Líder do Movimento Slow Food – e de Rosangela Pezza Cintrão – Membro do Sloow Food. Elas começaram falando sobre o nome do movimento que faz uma parodia com o “fast-food” que nos remete aquela ideia de comida pronta e rápida então o slow food se trataria de comidas “lentas”, isto é, faz apologia aos alimentos feitos de modo tradicional. Falaram que o Movimento foi fundado em 1986 e está presente em países como, por exemplo, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Austrália, Alemanha etc. E que é uma organização ecogastronomia internacional, sem fins lucrativos, mantida por membros com o objetivo de manter o modo como os alimentos são preparados.
Por fim o coordenador da mesa abre espaço para o debate e termina as palestras do Evento.

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