Entre os dias 21 e 23
de maio, do presente ano, ocorreu na Universidade Federal de Sergipe, o I Seminário sobre alimentos e manifestações culturais tradicionais,
organizado pelo GRUPAM (Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Alimentos e Manifestações Culturais Tradicionais), do
Departamento de Geografia. Tendo como coordenadora geral a Profª Drª Sônia de
Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS), e como comissão organizadora o Prof. Dr.
Antônio Lindvaldo de Souza (DHI/UFS), Prof. Doutorando Christian Jean-Marie
Boudou (DGE/UFS), Eng. de Alimentos e Doutoranda Fabiana Thomé da Cruz
(PGDR/UFRGS), Profª Drª Rosana Eduardo S. Leal (NTU/UFS) e Profª Drª Sônia de
Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS).
O Seminário teve por objetivo refletir sobre os desafios que estão sendo
vivenciados para a manutenção da produção de diversos alimentos tradicionais e
de outras manifestações culturais na contemporaneidade. E discutir a
valorização de temáticas que envolvem alimentos e manifestações tradicionais
referindo-se também a valorização de personagens, atuantes, fato que exige
maior atenção sobre o olhar do professor-pesquisador.
No primeiro dia, a palestra ministrada pela Profª Drª Ellen
Fensterseifer Woortmann (UNB), foi sobre a importância do papel da pesquisa e
do ensino na valorização dos alimentos e demais manifestações culturais
tradicionais na contemporaneidade.
A temática da mesa redonda do segundo dia foi sobre “O alimento como
manifestação cultural e reprodução social e econômica nos territórios” tendo
como coordenador o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza (DHI/UFS). A primeira
palestrante foi Luzineide Carvalho Dourado – Drª em Geografia – cuja temática abordada foi sobre a importância da
natureza semi-árida. Concluimos ao término de sua palestra que o semi-árido é
também um lugar bom para se viver, e que ele produz a interação natureza,
território e cultura.
A segunda palestrante foi Fabiana Thomé da Cruz – Doutoranda em
Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS) – ela dividi sua palestra em quatro,
principais pontos, 1º Emergência da valorização do alimento tradicional; 2º O
que são alimentos tradicionais?; 3º Problematizando o movimento de valorização
de alimentos tradicionais e 4º Reconhecimento e legitimação de alimentos
tradicionais.
No primeiro ponto ela faz uma comparação de alimentos industrializados
com os artesanais e utiliza como exemplo o pão feito por sua avó e um comprado
em supermercado, um dos itens de comparação é a quantidade de produtos
necessários para fazê-los, sendo que o industrializado necessita de mais
produtos que o “caseiro”. No segundo ponto ela se ampara na teoria de Giddens
sobre o “caráter repetitivo da tradição” para uma possível definição. Nesse
sentido os alimentos tradicionais são aqueles cujo caráter se baseia na
produção manual e a respeito do seu contexto é produzido geralmente por famílias, sendo
que apesar de mudanças, como o passar do tempo, a receita preserva ingredientes
da “original”. Sobre o terceiro ponto vemos que esse tipo de alimento não é
reconhecido e legitimado em sua amplitude. E que para atingir a requisitos do
industrial é necessário altos recursos. Com o quarto ponto percebemos que é
necessário reconhecer todas as etapas da produção dos alimentos tradicionais
pois, dessa forma “valorizaremos os saberes e fazeres” dos produtores.
A última palestrante do dia foi Maria de Fátima Farias Lima – Msc. em
Sociologia (UFC) – antes de começar sobre o “Projeto Comida Ceará” ela nos
mostra uma apresentação áudio-visual sobre o mesmo. Nesta vemos como foi a
visita aos municípios e como o Projeto se procedia. A seguir ela
começa a falar sobre o Projeto iniciado em 2008 e que em 2011 teve uma pausa
temporária, para que fizessem organização dos dados colhidos e refletissem sobre os mesmos. Foram mais de sessenta e três municípios visitados, isto é, mais de
cem localidades. Tendo como objetivo uma reflexão sobre os significados que a
alimentação cultural possui, visando uma maior compreensão sobre a importância
dessas manifestações.
No decorrer de sua palestra fala sobre a metodologia utilizada e os
problemas enfrentados na pesquisa de campo, que vai desde a disponibilidade de
recursos à comunicação com as pessoas entrevistadas. Com esta palestra vemos
desde as tecnologias de produção; procedimentos de purificação; saberes tradicionais
e normas sanitárias; técnicas de transformação do alimento; instrumentos de
cozinha; sensibilidade culinária; ritos; crenças; simbologias; memória e
afetividade são características, praticamente, exclusivas desta alimentação cultural e que há uma
necessidade de reconhecer esses processos para que não caiam no esquecimento,
tendo seu valor reconhecido.
Ao término das palestras deste dia 22 de maio de 2012, o coordenador da
Mesa, Prof. Dr. Antônio Lindvaldo de Souza, antes de abrir espaço para o debate,
faz observações sobre a temática relacionando com o campo da História, já que
esta necessidade de valorização dos “sujeitos”, isto é, dos agentes
responsáveis por esse tipo de alimentação cultural sejam reconhecidos nos
remetem à importância memória, que para o historiador, aliás, que para qualquer
pesquisador é extremamente essencial.
O terceiro e último dia do Evento teve como temática “As políticas e os
movimentos de valorização das manifestações culturais no Brasil”, tendo como
coordenador da Mesa Redonda Christian Jean-Marie Boudou (DGE/UFS). A primeira
palestrante foi Maria Augusta Mundim Vargas – Drª em Geografia – ela começa
falando sobre o papel do Estado, do IES e do próprio geógrafo na
problematização sobre as manifestações culturais e acredita que o papel deste
último seja de “mergulhar” na interdisciplinaridade da abordagem cultural,
sendo que ainda assumiria papel de mediador e de parceiro com a sociedade.
Ela comenta sobre a difícil interpretação das políticas, sobre as
desconexões temporais e sobre como a dinâmica da produção da(s) cultura(s) põe
em discussão certas competências. Fala sobre a importância da preservação do
passado para proteção do futuro. E a respeito dos arranjos de política de
Estado – interpenetrações, conexões, visibilidade e informação – neste sentido
dá o exemplo do projeto Procultura. Este tem por objetivos analisar o
uso e a valorização das festas populares a partir das paisagens culturais de
Góias, Ceará e Sergipe; refletir sobre as políticas culturais e o sentido político,
econômico e social das políticas culturais desenvolvidas por parte de cada
secretária estadual; fortalecer linhas de pesquisa sobre espaço e práticas
culturais em programas de pós graduação, em Geografia, nas universidades dos
três estados citados. Por fim ela comenta sobre a importância das festas tradicionais,
diferenciando a divulgação das festas juninas e as festividades em torno do
ciclo natalino.
Claúdia Marina Vasques – representante do IPHAN – foi a segunda palestrante
do dia. Ela inicia falando sobre os principais objetivos do IPHAN, que seria a
proteção e a garantia de continuidade de bens culturais sob ameaça real ou
potencial; a valorização e a visibilidade de bens culturais considerados
referências para a comunidade ou grupos específicos; e implantação da política
de salvaguarda do patrimônio imaterial, como por exemplo, as comidas.
A seguir ela fala sobre os instrumentos que podem ser utilizados na
preservação de determinado, local, rito, enfim cita o tombamento e a chancela
de paisagem cultural como possíveis métodos de preservação, sendo que, o
tombamento diferencia do segundo no sentido de que garante a proteção, por
leis, para o bem que foi tombado.
A última palestra do dia foi de Cênia Sales – Líder do Movimento Slow
Food – e de Rosangela Pezza Cintrão – Membro do Sloow Food. Elas começaram
falando sobre o nome do movimento que faz uma parodia com o “fast-food” que nos
remete aquela ideia de comida pronta e rápida então o slow food se trataria de
comidas “lentas”, isto é, faz apologia aos alimentos feitos de modo
tradicional. Falaram que o Movimento foi fundado em 1986 e está presente em
países como, por exemplo, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Austrália,
Alemanha etc. E que é uma organização ecogastronomia internacional, sem fins
lucrativos, mantida por membros com o objetivo de manter o modo como os
alimentos são preparados.
Por fim o coordenador da mesa abre espaço para o debate e termina as
palestras do Evento.
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