quarta-feira, 30 de maio de 2012

As semelhanças entre os processos de modernização ocorridos nas cidades de Sorocaba (SP) e Aracaju (SE), nas primeiras décadas do século XX


        O presente texto tem como objetivo observar as semelhanças no processo de modernização no município de Sorocaba (São Paulo) e na cidade de Aracaju (Sergipe), e os revezes causados por tal no século XX.
No início do texto, o autor utiliza Sérgio Buarque de Holanda e a ideia que este usou em seu livro Raízes do Brasil, ou seja, a tentativa de implementar a cultura europeia em nosso território. A seguir o autor aborda sobre as praticas de ensino e o distanciamento dos alunos em relação ao que é chamado pelos historiadores de “História Local”, uma das causas disso seria que a história geral acaba apagando as especificidades da história local em nome de uma versão completa que busca manter visões dominantes.
O autor ainda discute sobre algumas práticas instituídas no ensino de História que reproduzem uma visão tradicional da disciplina, propondo uma abordagem que não esteja vinculada ao estudo histórico “conteudista”, “celebrativo”, “único” e “verdadeiro”. Nesse contexto, discuti as potencialidades da história local para o ensino no fundamental e médio.
Utilizando como exemplo o município de Sorocaba o autor faz uma proposta inovadora voltada para a recuperação de experiências vividas, nessa região, durante o período de modernização da cidade em 1903, conhecida por “Machester Paulista”. Esta, segundo o autor, simbolizava um salto quantitativo na sua produção econômica, em suas relações sociais, na importância política e cultural de seus habitantes.
Segundo Junior,
Sorocaba, que até o final do século XIX estava ligada a sua grande feira de muares, reconhecida como uma das maiores fornecedoras de animais para o transporte de carga na região Sudeste, encontrou um atalho para o futuro promissor, deixando no passado a ‘decadente’ feira de animais que não suportava a concorrência de outro símbolo da modernização do país, as estradas de ferro, caminhando para o progresso com a instalação de unidades industriais do ramo têxtil a partir da década de 1880 (JUNIOR, 2001: 38).
Dessa forma, as mais “modernas” técnicas industriais eram aplicadas para o “bem de seus habitantes”, para o “crescimento de São Paulo e do Brasil”, isto é, a cidade abriu suas portas para a “modernidade” entrar e se instalar.
            A permanência desse discurso elitista resulta em uma construção de relações sociais democráticas. Ou seja, a segregação, o preconceito e a discriminação racial e social são realimentados ocasionando novas formas de conflitos. Nesse contexto, o autor propõe a reflexão dos alunos a partir das pesquisas referentes ao período republicano em Sorocaba, pois, dessa forma, terão conhecimento de como era e como está a cidade hoje, conhecendo a sua história, através de documentos locais.
            Para o autor
esse processo de ensino e aprendizagem, baseado em documentos e em memórias coletivas de uma história local, visto pelos defensores de uma história global como um estudo limitado, sensibiliza as partes envolvidas, transformando o sujeito histórico e suas idéias, através de uma pesquisa que o desperta como tal, mostrando-lhe não apenas sua capacidade de produção de conhecimentos, mas também sua importância política e suas potencialidades sócio culturais. (JUNIOR, 2001: 40).

Mas para que haja a realização deste trabalho é necessária à motivação de todos, ou seja, a relação entre professores, alunos, comunidade é o que moverá a tentativa de recuperação da história local.
            Aracaju, também nas primeiras décadas do séc. XX estava passando por um processo de modernização. Segundo Souza existia na mentalidade de um grupo da elite sergipana a perspectiva de um “futuro promissor” visto em Aracaju. Essa elite era defensora de um projeto modernizador. Nesse sentido, segundo Maria Thetis Nunes, a vida político-administrativa centralizava-se na nova Capital, com o desenvolvimento urbano desligado dos interesses dos focos socioeconômicos dominantes. Consequentemente, ocorria o declínio do patriarcado rural, deslocando-se o senhor de terra com a família para Aracaju, contribuindo para o rápido crescimento, a sua expansão transpondo os limites demarcados no planejamento do Engenheiro Pirro.
            Nesse contexto a agricultura Sergipe, no início do séc. XX foi marcada pela modernização. Os velhos engenhos de tração animal foram sendo substituídos por modernas usinas a vapor. O algodão alcançou altos preços no mercado internacional durante a Primeira Guerra Mundial e nos anos seguintes. Devido a este desenvolvimento do algodão surgiram 07 fábricas de tecidos em Sergipe, sendo que destas duas ficavam em Aracaju.
            Tanto Aracaju quando Sorocaba passaram por um processo modernizador urbanístico amparados pelo olhar europeu. Porém semelhante ao processo que ocorrerá em Sorocaba, Aracaju é marcada por revezes. O grande número de migração de famílias do interior para a capital, em busca de emprego e melhores condições, acarretou em casos de discriminação, ou seja, preconceito social já que essas pessoas não eram bem vistas pela “elite”. Eram tratados como “arruaceiros” que impediriam o progresso.
            Com o passar do tempo esses pobres e negros fariam parte da classe operária, vivendo sob condições precárias, como por exemplo, o fato de não existir leis que os protegessem; salários baixíssimos, grande jornada de trabalho.
            Percebemos que ambos os municípios de Aracaju e Sorocaba possuíram uma elite que “vendeu” algo que acabou sendo projetado. Essas “ideias” apagam as especificidades da história local em nome de uma versão completa e busca manter “versões dominantes”. Isto é o período de modernização teve forte influência dos valores europeus, como por exemplo, o evolucionismo, liberalismo e positivismo.
            Concluímos com esta atividade além de analisar as consequências, positivas e negativas, trazidas com este processo de modernização imposto pelas elites das cidades. A importância da preservação da história local, para a restauração da memória coletiva e nesse sentido a recuperação das singularidades, como Sousa exemplifica o caso de Dona Antônia, pois a partir do depoimento dela percebemos como ela e outras pessoas forjaram e criaram formas próprias de lidar com as precárias condições de vida que encontravam em Aracaju quando passaram a morar e trabalhar nas fábricas de tecidos.

Referências:
JUNIOR, Arnaldo Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In: História: Área do conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001, pp. 37 -40.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II: (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Ave Branca que voa dos pântanos para o azul...”: as elites e o projeto modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2010, pp. 114-124.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Parte do outro da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD. 2010, pp. 148-157.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Nas fimbras da ordem e do progresso: outras ‘vozes’ e ‘histórias de vidas’ diferentes dos agentes da modernização em Aracaju”. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, pp. 179-200.

Nenhum comentário:

Postar um comentário