Visão da Cidade obtida da Igreja do Bonfim |
No dia onze de
maio, do presente ano, fomos à cidade de Laranjeiras, localizada aproximadamente
a vinte e três quilômetros da capital. Fundada em 1605 é a segunda cidade mais
antiga de Sergipe. A presença dos jesuítas, que ergueram às margens do riacho
São Pedro, no Vale do Cotinguiba, a primeira igreja e uma residência, conhecida
como Retiro, foi decisiva para fixar definitivamente a cidade.
O povoado foi
inicialmente denominado de Vila de Nossa Senhora do Socorro. Já em 1734, é concluída
a obra da Igreja de Comandaroba, hoje um dos mais importantes monumentos
arquitetônicos do Estado. O desenvolvimento econômico ocorreu com a chegada do
cultivo da cana-de-açúcar, no século XVIII, gerando neste período um apogeu
financeiro que atraiu comerciantes de várias partes do Estado. Na época
existiam muitas laranjeiras no local, dando origem ao nome da cidade.
A cidade passou
a ser o berço da economia da Província, destacando-se também pelo comércio de
escravos, que deixaram uma forte influência na cultural local No início do
século XIX. Ainda tinha muita importância como um grande centro comercial e
exportador, o que a faz designada como a primeira alfândega de Sergipe.
Igreja do Bonfim |
As igrejas, o estilo barroco da arquitetura, a paisagem e as
grutas faz de Laranjeiras uma de grande potencial turístico. A cultura também é
de grande expressão, concentrando até hoje o maior número de manifestações
folclóricas do Estado. A cidade
possui 16 igrejas católicas e se orgulha de ter sediado o primeiro templo
protestante de Sergipe, a Igreja Presbiteriana, fundada em 1884. E é no ciclo de natal, especialmente na Festa
dos Santos Reis, que a tradição laranjeirense toma as ruas da cidade. A festa
de São Gonçalo, São Benedito, Lambe Sujo e Taieiras são as mais conhecidas na
cidade.
Igreja Matriz |
Capela de Bom Jesus dos Navegantes |
Visitamos primeiramente a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, localizada na Rua do Sagrado Coração de Jesus. A seguir fomos
à outra igreja, está no alto de uma ladeira e depois de muito subir chegamos a Igreja do Bonfim, que passou por uma
grande reforma no século XIX devido a um incêndio que a destruiu parcialmente. Do alto dela é possível ter
uma ampla visão da região do Vale do Cotinguiba. Dela também podemos
observar a Capela de Bom Jesus dos Navegantes que
está localizada na Colina do Bom Jesus, ponto alto da cidade. Sua fachada
apresenta características do barroco brasileiro do século XIX, embora a Igreja
tenha sido inaugurada no ano de 1908.
Câmara Municipal |
Após
descermos fomos ao centro da cidade, onde passamos em frente da Câmara Municipal e como já estava na
hora da abertura do Museu da Cultura-Afro nos direcionamos a ele. No caminho
encontramos um menino, ou melhor, ele nos encontrou, tinha, aproximadamente
doze anos e disse que seu nome era “Carlinhos”. Ele conhecia, praticamente, tudo
na cidade e nos deu uma “aula” sobre os locais abandonados, ao nosso redor e
sobre tudo que encontrávamos no caminho.
Igreja do "Galo" |
Primeiro
falou sobre a Igreja dos Homens Pardos e
Livres, esta mais conhecida como Igreja do “galo” que foi construída
no século XIX, pelos homens pardos e tornou-se centro de devoção a Nossa
Senhora da Conceição.
A esquerda o Hospital abandonado e a direita o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Laranjeiras |
A seguir sobre a antiga Maçonaria e um Hospital abandonado, que fica ao lado do atual Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Laranjeiras, sobre o hospital, o menino fala que Lampião esteve lá e precisou de tratamento em seu olho. Como fora tratado muito bem prometeu não invadir a cidade e protegê-la.
Carlinhos nosso "guia mirim" |
Na
entrada do Museu Afro Brasileiro há
algumas placas, uma de quando fora inaugurado (1976) e outra de quando fora
restaurado (1991). O sobrado construído no
século XIX pertenceu à Família Brandão detentora do Cartório que funcionava no
pavimento térreo. Tornou-se Museu Afro em 1976 e possui peças que
ilustram o período escravocrata além de representar a cultura afro nas suas
mais variadas formas.
Instrumentos de tortura |
Objetos da casa dos senhores de engenho |
Lá havia uma
guia que nos explicara as manifestações cultural-religiosas dos negros. Ela nos
levou a algumas salas, uma delas era sobre os instrumentos de tortura, outra
era a sala de economia açucareira, que fora a principal atividade econômica da
cidade no século XIX. Vimos ainda o vestido utilizado pelas mulheres negras,
além de instrumentos usados nas casas dos senhores de engenho, como por
exemplo, pilão e panelas de madeira, candeeiros, alguns móveis como cama,
“cadeira de arruar” e cadeiras e mesa de centro.
Quadro representando Lambe Sujo X Caboclinhos |
A seguir vimos
quadros que representavam algumas manifestações, como o Lambe-Sujo e Cacumbi. A
guia nos falou sobre as crenças religiosas dos negros, dando ênfase aos Orixás
e o significado deles, por exemplo, ÈXÚ
(Exu), é representado pelas cores vermelha e preta. Ele é um orixá de
múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna defini-lo de maneira
“coerente”. ÒSÓÒSI (Oxóssi),
representado pela cor verde, ele é o deus caçador, senhor da floresta e de
todos os seres que nela habitam Orixá da fartura e da riqueza. OSÀLÀ (Oxála) é o detentor do poder
genitor masculino e todas as suas representações incluem o branco. YEMOJA (Iemanjá), representado pela cor
azul, transparente e branco, é o Orixá
dos Egbá, uma nação ioruba estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan,
onde ainda existe o rio Yemoja. Este Orixá é considerado a Mãe de todos, a
senhora de todas as cabeças.
Orixás |
A guia explica
sobre as religiões afro-brasileiras em Laranjeiras citando a Irmandade Santa
Bárbara Virgem e os Filhos de Obá. O terreiro Santa Bárbara Virgem,
representaria a continuidade de um terreiro dos antigos escravos africanos, dos
quais descendia a chefe crioula, Umbilina de Araújo, que o dirigiu por mais de
cinquenta anos seguindo sempre a tradição recebida dos ancestrais nagôs. No
terreiro dos Filhos de Obá o dirigente, Alexandre da Silva, teria não apenas
atualizado a tradição dos nagôs e outras nações africanas através da Bahia, mas
também incorporou ao terreiro o culto dos caboclos. Sua influência na formação
de outros terreiros da cidade é inquestionável.
Cadeira do Babalorixá |
Ela ainda
comenta sobre as oferendas e nos apresenta alguns instrumentos utilizados nos
rituais. Mostra também a cadeira que pertenceu ao Babalorixá Gilberto da Silva, o Lê,
e fala sobre a sua importância e do terreiro Oxóssi Tauamim. Seu Lê antes mesmo de passar pelo ritual de
iniciação Candomblé se dedicou ao culto de suas entidades espirituais. Somente
na década de 1950 é que foi iniciado no Candomblé de Angola, sendo seu terreiro
denominado “Oxóssi Tauamim”. Atualmente parte do acervo que o Museu possui
pertenceu a Lê, principalmente as peças de metal, que correspondem a peças
utilizadas na indumentária dos Orixás. Lê
faleceu em 12 de junho de 1999, sendo considerado um importante Babalorixá do Candomblé Sergipano
contribuindo para o processo de legitimação e institucionalização das religiões
afro-brasileiras no Estado.
Igreja Presbiteriana |
Por fim, ao sairmos do Museu, passamos na frente da Igreja Presbiteriana, está inaugurada em 19 de novembro de 1899 após uma série de incidentes entre católicos e protestantes iniciados em 1844 e agravaram-se quando o pastor norte-americano Alexander Latiner Blackford, após visitas a Laranjeiras, fundou a primeira Igreja Presbiteriana em Sergipe, na Rua Comandaroba. Até hoje a Igreja mantém todas as suas atividades.
gostaria de saber mais sobre os engenhos da cotinguiba, espinheiro, lagoa do mato...
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