O presente texto tem como objetivo
observar as semelhanças no processo de modernização no município de Sorocaba (São
Paulo) e na cidade de Aracaju (Sergipe), e os revezes causados por tal no
século XX.
No início do texto, o
autor utiliza Sérgio Buarque de Holanda e a ideia que este usou em seu livro Raízes do Brasil, ou seja, a tentativa
de implementar a cultura europeia em nosso território. A seguir o autor aborda
sobre as praticas de ensino e o distanciamento dos alunos em relação ao que é
chamado pelos historiadores de “História Local”, uma das causas disso seria que
a história geral acaba apagando as especificidades da história local em nome de
uma versão completa que busca manter visões dominantes.
O autor ainda discute
sobre algumas práticas instituídas no ensino de História que reproduzem uma
visão tradicional da disciplina, propondo uma abordagem que não esteja
vinculada ao estudo histórico “conteudista”, “celebrativo”, “único” e
“verdadeiro”. Nesse contexto, discuti as potencialidades da história local para
o ensino no fundamental e médio.
Utilizando como exemplo
o município de Sorocaba o autor faz uma proposta inovadora voltada para a
recuperação de experiências vividas, nessa região, durante o período de
modernização da cidade em 1903, conhecida por “Machester Paulista”. Esta,
segundo o autor, simbolizava um salto quantitativo na sua produção econômica,
em suas relações sociais, na importância política e cultural de seus
habitantes.
Segundo Junior,
Sorocaba, que
até o final do século XIX estava ligada a sua grande feira de muares,
reconhecida como uma das maiores fornecedoras de animais para o transporte de
carga na região Sudeste, encontrou um atalho para o futuro promissor, deixando
no passado a ‘decadente’ feira de animais que não suportava a concorrência de
outro símbolo da modernização do país, as estradas de ferro, caminhando para o
progresso com a instalação de unidades industriais do ramo têxtil a partir da
década de 1880 (JUNIOR, 2001: 38).
Dessa forma, as mais “modernas” técnicas
industriais eram aplicadas para o “bem de seus habitantes”, para o “crescimento
de São Paulo e do Brasil”, isto é, a cidade abriu suas portas para a
“modernidade” entrar e se instalar.
A
permanência desse discurso elitista resulta em uma construção de relações
sociais democráticas. Ou seja, a segregação, o preconceito e a discriminação
racial e social são realimentados ocasionando novas formas de conflitos. Nesse
contexto, o autor propõe a reflexão dos alunos a partir das pesquisas referentes
ao período republicano em Sorocaba, pois, dessa forma, terão conhecimento de
como era e como está a cidade hoje, conhecendo a sua história, através de
documentos locais.
Para
o autor
esse
processo de ensino e aprendizagem, baseado em documentos e em memórias
coletivas de uma história local, visto pelos defensores de uma história global
como um estudo limitado, sensibiliza as partes envolvidas, transformando o
sujeito histórico e suas idéias, através de uma pesquisa que o desperta como
tal, mostrando-lhe não apenas sua capacidade de produção de conhecimentos, mas
também sua importância política e suas potencialidades sócio culturais.
(JUNIOR, 2001: 40).
Mas para que haja a realização deste
trabalho é necessária à motivação de todos, ou seja, a relação entre
professores, alunos, comunidade é o que moverá a tentativa de recuperação da
história local.
Aracaju,
também nas primeiras décadas do séc. XX estava passando por um processo de
modernização. Segundo Souza existia na mentalidade de um grupo da elite sergipana
a perspectiva de um “futuro promissor” visto em Aracaju. Essa elite era
defensora de um projeto modernizador. Nesse sentido, segundo Maria Thetis
Nunes, a vida político-administrativa centralizava-se na nova Capital, com o
desenvolvimento urbano desligado dos interesses dos focos socioeconômicos
dominantes. Consequentemente, ocorria o declínio do patriarcado rural,
deslocando-se o senhor de terra com a família para Aracaju, contribuindo para o
rápido crescimento, a sua expansão transpondo os limites demarcados no
planejamento do Engenheiro Pirro.
Nesse
contexto a agricultura Sergipe, no início do séc. XX foi marcada pela
modernização. Os velhos engenhos de tração animal foram sendo substituídos por
modernas usinas a vapor. O algodão alcançou altos preços no mercado
internacional durante a Primeira Guerra Mundial e nos anos seguintes. Devido a
este desenvolvimento do algodão surgiram 07 fábricas de tecidos em Sergipe,
sendo que destas duas ficavam em Aracaju.
Tanto
Aracaju quando Sorocaba passaram por um processo modernizador urbanístico amparados
pelo olhar europeu. Porém semelhante ao processo que ocorrerá em Sorocaba, Aracaju
é marcada por revezes. O grande número de migração de famílias do interior para
a capital, em busca de emprego e melhores condições, acarretou em casos de
discriminação, ou seja, preconceito social já que essas pessoas não eram bem
vistas pela “elite”. Eram tratados como “arruaceiros” que impediriam o progresso.
Com
o passar do tempo esses pobres e negros fariam parte da classe operária,
vivendo sob condições precárias, como por exemplo, o fato de não existir leis
que os protegessem; salários baixíssimos, grande jornada de trabalho.
Percebemos
que ambos os municípios de Aracaju e Sorocaba possuíram uma elite que “vendeu”
algo que acabou sendo projetado. Essas “ideias” apagam as especificidades da
história local em nome de uma versão completa e busca manter “versões
dominantes”. Isto é o período de modernização teve forte influência dos valores
europeus, como por exemplo, o evolucionismo, liberalismo e positivismo.
Concluímos com esta atividade além
de analisar as consequências, positivas e negativas, trazidas com este processo
de modernização imposto pelas elites das cidades. A importância da preservação
da história local, para a restauração da memória coletiva e nesse sentido a
recuperação das singularidades, como Sousa exemplifica o caso de Dona Antônia,
pois a partir do depoimento dela percebemos como ela e outras pessoas forjaram e criaram formas próprias
de lidar com as precárias condições de vida que encontravam em Aracaju quando
passaram a morar e trabalhar nas fábricas de tecidos.
Referências:
JUNIOR, Arnaldo
Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em
sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In: História: Área do
conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001, pp. 37 -40.
NUNES,
Maria Thetis. Sergipe
Provincial II: (1840/1889). Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
SOUSA, Antônio
Lindvaldo. “Ave Branca que voa dos pântanos para o azul...”: as elites e o
projeto modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. São Cristóvão:
Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2010, pp. 114-124.
SOUSA, Antônio
Lindvaldo. “Parte do outro da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas
primeiras décadas do século XX. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/
CESAD. 2010, pp. 148-157.
SOUSA, Antônio
Lindvaldo. “Nas fimbras da ordem e do progresso: outras ‘vozes’ e ‘histórias de
vidas’ diferentes dos agentes da modernização em Aracaju”. São Cristóvão:
Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, pp. 179-200.