quarta-feira, 30 de maio de 2012

As semelhanças entre os processos de modernização ocorridos nas cidades de Sorocaba (SP) e Aracaju (SE), nas primeiras décadas do século XX


        O presente texto tem como objetivo observar as semelhanças no processo de modernização no município de Sorocaba (São Paulo) e na cidade de Aracaju (Sergipe), e os revezes causados por tal no século XX.
No início do texto, o autor utiliza Sérgio Buarque de Holanda e a ideia que este usou em seu livro Raízes do Brasil, ou seja, a tentativa de implementar a cultura europeia em nosso território. A seguir o autor aborda sobre as praticas de ensino e o distanciamento dos alunos em relação ao que é chamado pelos historiadores de “História Local”, uma das causas disso seria que a história geral acaba apagando as especificidades da história local em nome de uma versão completa que busca manter visões dominantes.
O autor ainda discute sobre algumas práticas instituídas no ensino de História que reproduzem uma visão tradicional da disciplina, propondo uma abordagem que não esteja vinculada ao estudo histórico “conteudista”, “celebrativo”, “único” e “verdadeiro”. Nesse contexto, discuti as potencialidades da história local para o ensino no fundamental e médio.
Utilizando como exemplo o município de Sorocaba o autor faz uma proposta inovadora voltada para a recuperação de experiências vividas, nessa região, durante o período de modernização da cidade em 1903, conhecida por “Machester Paulista”. Esta, segundo o autor, simbolizava um salto quantitativo na sua produção econômica, em suas relações sociais, na importância política e cultural de seus habitantes.
Segundo Junior,
Sorocaba, que até o final do século XIX estava ligada a sua grande feira de muares, reconhecida como uma das maiores fornecedoras de animais para o transporte de carga na região Sudeste, encontrou um atalho para o futuro promissor, deixando no passado a ‘decadente’ feira de animais que não suportava a concorrência de outro símbolo da modernização do país, as estradas de ferro, caminhando para o progresso com a instalação de unidades industriais do ramo têxtil a partir da década de 1880 (JUNIOR, 2001: 38).
Dessa forma, as mais “modernas” técnicas industriais eram aplicadas para o “bem de seus habitantes”, para o “crescimento de São Paulo e do Brasil”, isto é, a cidade abriu suas portas para a “modernidade” entrar e se instalar.
            A permanência desse discurso elitista resulta em uma construção de relações sociais democráticas. Ou seja, a segregação, o preconceito e a discriminação racial e social são realimentados ocasionando novas formas de conflitos. Nesse contexto, o autor propõe a reflexão dos alunos a partir das pesquisas referentes ao período republicano em Sorocaba, pois, dessa forma, terão conhecimento de como era e como está a cidade hoje, conhecendo a sua história, através de documentos locais.
            Para o autor
esse processo de ensino e aprendizagem, baseado em documentos e em memórias coletivas de uma história local, visto pelos defensores de uma história global como um estudo limitado, sensibiliza as partes envolvidas, transformando o sujeito histórico e suas idéias, através de uma pesquisa que o desperta como tal, mostrando-lhe não apenas sua capacidade de produção de conhecimentos, mas também sua importância política e suas potencialidades sócio culturais. (JUNIOR, 2001: 40).

Mas para que haja a realização deste trabalho é necessária à motivação de todos, ou seja, a relação entre professores, alunos, comunidade é o que moverá a tentativa de recuperação da história local.
            Aracaju, também nas primeiras décadas do séc. XX estava passando por um processo de modernização. Segundo Souza existia na mentalidade de um grupo da elite sergipana a perspectiva de um “futuro promissor” visto em Aracaju. Essa elite era defensora de um projeto modernizador. Nesse sentido, segundo Maria Thetis Nunes, a vida político-administrativa centralizava-se na nova Capital, com o desenvolvimento urbano desligado dos interesses dos focos socioeconômicos dominantes. Consequentemente, ocorria o declínio do patriarcado rural, deslocando-se o senhor de terra com a família para Aracaju, contribuindo para o rápido crescimento, a sua expansão transpondo os limites demarcados no planejamento do Engenheiro Pirro.
            Nesse contexto a agricultura Sergipe, no início do séc. XX foi marcada pela modernização. Os velhos engenhos de tração animal foram sendo substituídos por modernas usinas a vapor. O algodão alcançou altos preços no mercado internacional durante a Primeira Guerra Mundial e nos anos seguintes. Devido a este desenvolvimento do algodão surgiram 07 fábricas de tecidos em Sergipe, sendo que destas duas ficavam em Aracaju.
            Tanto Aracaju quando Sorocaba passaram por um processo modernizador urbanístico amparados pelo olhar europeu. Porém semelhante ao processo que ocorrerá em Sorocaba, Aracaju é marcada por revezes. O grande número de migração de famílias do interior para a capital, em busca de emprego e melhores condições, acarretou em casos de discriminação, ou seja, preconceito social já que essas pessoas não eram bem vistas pela “elite”. Eram tratados como “arruaceiros” que impediriam o progresso.
            Com o passar do tempo esses pobres e negros fariam parte da classe operária, vivendo sob condições precárias, como por exemplo, o fato de não existir leis que os protegessem; salários baixíssimos, grande jornada de trabalho.
            Percebemos que ambos os municípios de Aracaju e Sorocaba possuíram uma elite que “vendeu” algo que acabou sendo projetado. Essas “ideias” apagam as especificidades da história local em nome de uma versão completa e busca manter “versões dominantes”. Isto é o período de modernização teve forte influência dos valores europeus, como por exemplo, o evolucionismo, liberalismo e positivismo.
            Concluímos com esta atividade além de analisar as consequências, positivas e negativas, trazidas com este processo de modernização imposto pelas elites das cidades. A importância da preservação da história local, para a restauração da memória coletiva e nesse sentido a recuperação das singularidades, como Sousa exemplifica o caso de Dona Antônia, pois a partir do depoimento dela percebemos como ela e outras pessoas forjaram e criaram formas próprias de lidar com as precárias condições de vida que encontravam em Aracaju quando passaram a morar e trabalhar nas fábricas de tecidos.

Referências:
JUNIOR, Arnaldo Pinto. As potencialidades da história local para a produção de conhecimento em sala de aula: o enfoque do município de Sorocaba. In: História: Área do conhecimento. Ano 1, nº 3, 2001, pp. 37 -40.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II: (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Ave Branca que voa dos pântanos para o azul...”: as elites e o projeto modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2010, pp. 114-124.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Parte do outro da modernização...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD. 2010, pp. 148-157.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. “Nas fimbras da ordem e do progresso: outras ‘vozes’ e ‘histórias de vidas’ diferentes dos agentes da modernização em Aracaju”. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, pp. 179-200.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Resenha do Livro Sergipe Provincial II: (1840/1889)


  Sobre a autora:
         Maria Thetis Nunes nasceu em Itabaiana, no dia 06 de janeiro de 1925, na cidade cursou apenas a escola primária. A escola secundária fez na Capital sergipana, no Atheneu Sergipense. Formou-se em Geografia e História na primeira turma da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, aos 22 anos de idade, e em Museologia no Museu Histórico Nacional, sendo que em ambas obteve a primeira colocação.
      Defendendo a tese, quando estudante universitária, Os Árabes: sua influência na civilização ocidental, e por concurso em 1945 tornou-se professora catedrática do Atheneu Sergipense, se tornando a primeira mulher a fazer parte de sua Congregação. A partir daí trabalhou dando aulas e dirigindo o Atheneu Sergipense até a sua mudança para o Rio de Janeiro como estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – o ISEB. Depois do Rio de Janeiro trabalhou na Argentina como Adida Cultural do Brasil, na cidade de Rosário.
         Ao retornar a Sergipe voltou para o Atheneu e passou a atuar também na Faculdade Católica de Filosofia até a fundação da Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou em 1968 tornando-se professora titular de História do Brasil, História Contemporânea e Cultura Brasileira. Na qualidade de década da UFS, por duas vezes ocupou a Vice-Reitoria. Aposentada com 47 anos de magistério recebeu o título de Professora Emérita.
Foi membro do Conselho Estadual de Educação de 1970 a 1981, e do Conselho Estadual de Cultura de 1982 a 1994, sendo sua presidente por seis anos. Foi ainda, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por 30 anos. Ocupando cadeira  na Academia Sergipana de Letras. Recebeu inúmeras condecorações, entre elas a Medalha de Mérito Cultural Inácio Joaquim Barbosa e a Medalha de Mérito Serigy, ambas concedidas pela Prefeitura de Aracaju.
Falece do dia 25/10/2009, aos 86 anos de idade, deixando um legado importante para o Estado. Considerada por muitos como uma das mulheres de maior destaque na História de Sergipe, devido a sua valiosa contribuição nos campos da literatura e do magistério, já que trabalhou como professora e pesquisadora ininterruptamente durante 63 anos. 

Sobre o Livro:
         Sergipe Provincial II estuda o período da história de Sergipe a partir do golpe da Maioridade de Pedro II, em 25 de julho de 1840, encerrado em 15 de novembro de 1889 como golpe militar proclamando a República. Conclui-se, assim, que a história de Sergipe provincial é iniciada com a publicação, em 1978, da História de Sergipe a partir de 1820, seguida de Sergipe Provincial I.
Essa etapa da vida sergipana é marcada por visíveis transformações socioeconômicas que se compreendem correlacionadas às que ocorriam no país atrelando-se, segundo a autora, ao capitalismo em ascensão no mundo ocidental. A abolição do tráfico escravo, em 1850, ocasionando o crescimento do trabalho livre, o desenvolvimento da industrialização, dos meios de transporte, do comércio, a importância do sistema bancário, trariam grandes alterações na estrutura social brasileira até então assentada na economia agrária, no senhor de terra, como o crescimento da vida urbana e do status médio da população, impulsionando o progresso da educação, das letras e das artes. A província de Sergipe alcançou essas transformações, sua população praticamente duplica do período de 1839 a 1890. E com a abolição da escravidão há um aumento de trabalhadores livres. Cresce ainda o número de engenhos movidos a vapor e é criada a primeira indústria têxtil, Sergipe Industrial, em 1882, empregando incialmente quatrocentos operários.
O livro é composto por dez capítulos. No primeiro, Panorama Econômico de Província de Sergipe no Segundo Império vemos que após a conquista de Sergipe, no final do século XVI, realizada por Cristóvão de Barros, a criação de gado tornou-se a principal atividade econômica dos colonizadores. A ocupação das terras passou a realizar-se em função do gado nas áreas situadas entre o Rio Real até o São Francisco durante os séculos subsequentes. Somente algumas pessoas possuíam privilégios na escolha das terras da capitania sergipana: o senhor da Casa da Torre, descendentes e agregados. Garcia d’Ávila e seus herdeiros foram reconhecidos como colaboradores da construção da nação e tal empreitada fora entendida, por alguns pesquisadores, como uma ação dos bandeirantes. Convém observar que a maioria dos colonizadores de Sergipe se constituía de homens comuns pobres, aventureiros e gente de toda a espécie que faziam uso da mão de obra familiar e do trabalho indígena o que tornava tensas as relações nesse período.
Com os capítulos seguintes percebemos como o século XVII foi marcado pelo domínio luso-espanhol na capitania de Sergipe, dando continuidade à ocupação do seu território dominado pelos tupinambás. A apropriação de terras perto dos rios para a criação do gado e a produção de alimentos fortaleceu a colonização do território o que foi amplamente reforçado, mais tarde, pelo Estado, conjuntamente com a igreja por intermédio da elaboração das regras sociais, morais e na imposição de poder. São Cristóvão teve um papel importante no período colonial em Sergipe, a partir desse povoamento se empreendeu a conquista de outras áreas e os primeiros alicerces da expansão da cristandade.
         A Câmara passou a ser uma representação da luta de poder dos criadores de gado e senhores de terra ao lado dos representantes do governo da Bahia e da Coroa portuguesa. A cidade de São Cristóvão e as vilas tornaram-se espaços, também, do potentado rural. Essa ocupação do espaço pelos senhores de gado e da agricultura demonstra a importância dos núcleos de povoamento no período colonial. Dando continuidade ao processo de colonização de Sergipe tem-se nos séculos XVIII e XIX a independência da Bahia, o que ocasionou diversas reações da elite sergipana.
          A cana de açúcar trouxe prosperidade econômica para a Cotinguiba sendo que Laranjeiras tornou-se um dos núcleos que mais se destacou na região. A necessidade da construção de um porto era evidente devido ao escoamento da produção e atendendo a esse interesse Inácio Barbosa transfere a capital de Sergipe em 1855, de São Cristóvão para as praias de Aracaju. Alguns autores concordam que muitos outros fatores levaram a essa mudança, um deles é o desejo da elite em ter uma nova capital para atender as necessidades de uma província em crescente desenvolvimento.
           A sociedade da Cotinguiba contou além do engenho e da elite branca, com a presença marcante dos negros. Pode-se destacar, entretanto o trabalho braçal e a luta pela liberdade como traços marcantes desse povo em Sergipe. Constam-se registros em que se descrevem as lutas de resistência especialmente nos pequenos quilombos, conhecidos como mocambos. Também constam como parte da sociedade do açúcar os mestiços, os índios e as mulheres: os primeiros eram vistos como a escória da sociedade, os segundos foram declarados extintos em Sergipe e por ultimo as mulheres tidas como objetos dos interesses familiares e só posteriormente conseguiram conquistar um espaço na sociedade.  
            Na presidência do Dr. Inácio Joaquim Barbosa iniciou em 1855 um projeto modernizador das elites o que foi amplamente trabalhado nas décadas de 1910 a 1930. Nos anos iniciais do século XX, Aracaju foi recebendo um contingente significativo de pessoas de posses e ao mesmo tempo uma elite mais escolarizada passou a residir na capital, contribuindo para fomentar melhorias no aspecto físico da cidade.
            A necessidade de encontrar a identidade brasileira, sua individualidade e especificidade diante dos outros países fomentou o comportamento de nossos intelectuais. Ao parodiar que “nossa terra tem “Tobias”, “Fausto” etc. a elite sergipana compartilhava esse desejo, identificando a identidade sergipana na figura dos homens “ilustres”.
          A transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju devido a fatores já vistos possibilitou a centralização da economia no que se denomina “quadrado de Pirro”. Esse processo empurrou para a margem do quadrado os homens pobres e esse fenômeno deu início a uma nova realidade advinda da modernização. As fábricas de tecido exploravam a mão de obra e contribuíam com o quadro de miséria que se formava  ao redor da cidade.
           As consequências da modernização pareciam inevitáveis, ordem pública não funcionava do ponto de vista legal para atender a população. As comarcas, as delegacias e casas de prisões serviam para os interesses pessoais. Diversos conflitos e confrontos existiram no cotidiano dessas instituições, afetando o bom andamento da lei e da ordem. O uso da violência foi corriqueiro por parte dos potentados rurais, que queriam controlar essas instâncias para seus interesses particulares.
       Por fim, o último capítulo trata sobre a educação em Sergipe sempre esteve estreitamente ligada à estrutura econômica das classes sociais. Cada momento histórico é refletido através das artes e da Literatura e reflete os anseios dessas classes. As obras de autores ilustres como Tobias Barreto refletem com as limitações do romantismo a realidade dos escravos, Silvio Romero retratou o império em suas obras e vários outros jornalistas, juristas, artistas, musicistas que fizeram parte da historia de Sergipe e corroboram para a importância deste Estado para a formação da identidade de nosso país.



Referências:

IHGB. Dicionário Biográfico < http://www.ihgb.org.br/dicbio.php?id=00018>. Último acesso em 28/05/2012.

NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II: (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006.

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas em História de Sergipe II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Relatório do I Seminário sobre alimentos e manifestações culturais tradicionais


Entre os dias 21 e 23 de maio, do presente ano, ocorreu na Universidade Federal de Sergipe, o I Seminário sobre alimentos e manifestações culturais tradicionais, organizado pelo GRUPAM (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Alimentos e Manifestações Culturais Tradicionais), do Departamento de Geografia. Tendo como coordenadora geral a Profª Drª Sônia de Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS), e como comissão organizadora o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo de Souza (DHI/UFS), Prof. Doutorando Christian Jean-Marie Boudou (DGE/UFS), Eng. de Alimentos e Doutoranda Fabiana Thomé da Cruz (PGDR/UFRGS), Profª Drª Rosana Eduardo S. Leal (NTU/UFS) e Profª Drª Sônia de Souza Mendonça Menezes (DGE/UFS).
O Seminário teve por objetivo refletir sobre os desafios que estão sendo vivenciados para a manutenção da produção de diversos alimentos tradicionais e de outras manifestações culturais na contemporaneidade. E discutir a valorização de temáticas que envolvem alimentos e manifestações tradicionais referindo-se também a valorização de personagens, atuantes, fato que exige maior atenção sobre o olhar do professor-pesquisador.
No primeiro dia, a palestra ministrada pela Profª Drª Ellen Fensterseifer Woortmann (UNB), foi sobre a importância do papel da pesquisa e do ensino na valorização dos alimentos e demais manifestações culturais tradicionais na contemporaneidade.
A temática da mesa redonda do segundo dia foi sobre “O alimento como manifestação cultural e reprodução social e econômica nos territórios” tendo como coordenador o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza (DHI/UFS). A primeira palestrante foi Luzineide Carvalho Dourado – Drª  em Geografia – cuja temática abordada foi sobre a importância da natureza semi-árida. Concluimos ao término de sua palestra que o semi-árido é também um lugar bom para se viver, e que ele produz a interação natureza, território e cultura.
A segunda palestrante foi Fabiana Thomé da Cruz – Doutoranda em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS) – ela dividi sua palestra em quatro, principais pontos, 1º Emergência da valorização do alimento tradicional; 2º O que são alimentos tradicionais?; 3º Problematizando o movimento de valorização de alimentos tradicionais e 4º Reconhecimento e legitimação de alimentos tradicionais.
No primeiro ponto ela faz uma comparação de alimentos industrializados com os artesanais e utiliza como exemplo o pão feito por sua avó e um comprado em supermercado, um dos itens de comparação é a quantidade de produtos necessários para fazê-los, sendo que o industrializado necessita de mais produtos que o “caseiro”. No segundo ponto ela se ampara na teoria de Giddens sobre o “caráter repetitivo da tradição” para uma possível definição. Nesse sentido os alimentos tradicionais são aqueles cujo caráter se baseia na produção manual e a respeito do seu contexto é produzido geralmente por famílias, sendo que apesar de mudanças, como o passar do tempo, a receita preserva ingredientes da “original”. Sobre o terceiro ponto vemos que esse tipo de alimento não é reconhecido e legitimado em sua amplitude. E que para atingir a requisitos do industrial é necessário altos recursos. Com o quarto ponto percebemos que é necessário reconhecer todas as etapas da produção dos alimentos tradicionais pois, dessa forma “valorizaremos os saberes e fazeres” dos produtores.
A última palestrante do dia foi Maria de Fátima Farias Lima – Msc. em Sociologia (UFC) – antes de começar sobre o “Projeto Comida Ceará” ela nos mostra uma apresentação áudio-visual sobre o mesmo. Nesta vemos como foi a visita aos municípios e como o Projeto se procedia. A seguir ela começa a falar sobre o Projeto iniciado em 2008 e que em 2011 teve uma pausa temporária, para que fizessem organização dos dados colhidos e refletissem sobre os mesmos. Foram mais de sessenta e três municípios visitados, isto é, mais de cem localidades. Tendo como objetivo uma reflexão sobre os significados que a alimentação cultural possui, visando uma maior compreensão sobre a importância dessas manifestações.
No decorrer de sua palestra fala sobre a metodologia utilizada e os problemas enfrentados na pesquisa de campo, que vai desde a disponibilidade de recursos à comunicação com as pessoas entrevistadas. Com esta palestra vemos desde as tecnologias de produção; procedimentos de purificação; saberes tradicionais e normas sanitárias; técnicas de transformação do alimento; instrumentos de cozinha; sensibilidade culinária; ritos; crenças; simbologias; memória e afetividade são características, praticamente, exclusivas  desta alimentação cultural e que há uma necessidade de reconhecer esses processos para que não caiam no esquecimento, tendo seu valor reconhecido.
Ao término das palestras deste dia 22 de maio de 2012, o coordenador da Mesa, Prof. Dr. Antônio Lindvaldo de Souza, antes de abrir espaço para o debate, faz observações sobre a temática relacionando com o campo da História, já que esta necessidade de valorização dos “sujeitos”, isto é, dos agentes responsáveis por esse tipo de alimentação cultural sejam reconhecidos nos remetem à importância memória, que para o historiador, aliás, que para qualquer pesquisador é extremamente essencial.
O terceiro e último dia do Evento teve como temática “As políticas e os movimentos de valorização das manifestações culturais no Brasil”, tendo como coordenador da Mesa Redonda Christian Jean-Marie Boudou (DGE/UFS). A primeira palestrante foi Maria Augusta Mundim Vargas – Drª em Geografia – ela começa falando sobre o papel do Estado, do IES e do próprio geógrafo na problematização sobre as manifestações culturais e acredita que o papel deste último seja de “mergulhar” na interdisciplinaridade da abordagem cultural, sendo que ainda assumiria papel de mediador e de parceiro com a sociedade.
Ela comenta sobre a difícil interpretação das políticas, sobre as desconexões temporais e sobre como a dinâmica da produção da(s) cultura(s) põe em discussão certas competências. Fala sobre a importância da preservação do passado para proteção do futuro. E a respeito dos arranjos de política de Estado – interpenetrações, conexões, visibilidade e informação – neste sentido dá o exemplo do projeto Procultura. Este tem por objetivos analisar o uso e a valorização das festas populares a partir das paisagens culturais de Góias, Ceará e Sergipe; refletir sobre as políticas culturais e o sentido político, econômico e social das políticas culturais desenvolvidas por parte de cada secretária estadual; fortalecer linhas de pesquisa sobre espaço e práticas culturais em programas de pós graduação, em Geografia, nas universidades dos três estados citados. Por fim ela comenta sobre a importância das festas tradicionais, diferenciando a divulgação das festas juninas e as festividades em torno do ciclo natalino.
Claúdia Marina Vasques – representante do IPHAN – foi a segunda palestrante do dia. Ela inicia falando sobre os principais objetivos do IPHAN, que seria a proteção e a garantia de continuidade de bens culturais sob ameaça real ou potencial; a valorização e a visibilidade de bens culturais considerados referências para a comunidade ou grupos específicos; e implantação da política de salvaguarda do patrimônio imaterial, como por exemplo, as comidas.
A seguir ela fala sobre os instrumentos que podem ser utilizados na preservação de determinado, local, rito, enfim cita o tombamento e a chancela de paisagem cultural como possíveis métodos de preservação, sendo que, o tombamento diferencia do segundo no sentido de que garante a proteção, por leis, para o bem que foi tombado.
A última palestra do dia foi de Cênia Sales – Líder do Movimento Slow Food – e de Rosangela Pezza Cintrão – Membro do Sloow Food. Elas começaram falando sobre o nome do movimento que faz uma parodia com o “fast-food” que nos remete aquela ideia de comida pronta e rápida então o slow food se trataria de comidas “lentas”, isto é, faz apologia aos alimentos feitos de modo tradicional. Falaram que o Movimento foi fundado em 1986 e está presente em países como, por exemplo, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Austrália, Alemanha etc. E que é uma organização ecogastronomia internacional, sem fins lucrativos, mantida por membros com o objetivo de manter o modo como os alimentos são preparados.
Por fim o coordenador da mesa abre espaço para o debate e termina as palestras do Evento.

sábado, 26 de maio de 2012

Relatório sobre Laranjeiras



Visão da Cidade obtida da Igreja do Bonfim
No dia onze de maio, do presente ano, fomos à cidade de Laranjeiras, localizada aproximadamente a vinte e três quilômetros da capital. Fundada em 1605 é a segunda cidade mais antiga de Sergipe. A presença dos jesuítas, que ergueram às margens do riacho São Pedro, no Vale do Cotinguiba, a primeira igreja e uma residência, conhecida como Retiro, foi decisiva para fixar definitivamente a cidade.
O povoado foi inicialmente denominado de Vila de Nossa Senhora do Socorro. Já em 1734, é concluída a obra da Igreja de Comandaroba, hoje um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do Estado. O desenvolvimento econômico ocorreu com a chegada do cultivo da cana-de-açúcar, no século XVIII, gerando neste período um apogeu financeiro que atraiu comerciantes de várias partes do Estado. Na época existiam muitas laranjeiras no local, dando origem ao nome da cidade.
A cidade passou a ser o berço da economia da Província, destacando-se também pelo comércio de escravos, que deixaram uma forte influência na cultural local No início do século XIX. Ainda tinha muita importância como um grande centro comercial e exportador, o que a faz designada como a primeira alfândega de Sergipe.
Igreja do Bonfim
As igrejas, o estilo barroco da arquitetura, a paisagem e as grutas faz de Laranjeiras uma de grande potencial turístico. A cultura também é de grande expressão, concentrando até hoje o maior número de manifestações folclóricas do Estado. A cidade possui 16 igrejas católicas e se orgulha de ter sediado o primeiro templo protestante de Sergipe, a Igreja Presbiteriana, fundada em 1884.  E é no ciclo de natal, especialmente na Festa dos Santos Reis, que a tradição laranjeirense toma as ruas da cidade. A festa de São Gonçalo, São Benedito, Lambe Sujo e Taieiras são as mais conhecidas na cidade.


Igreja Matriz
 Nós (eu e Anailza Guimarães) responsáveis pelo assunto “Festividades em Laranjeiras” e a dupla (Cassiano Correa e Luyse Moraes) responsável pelos “Abolicionistas” chegamos à cidade por volta de 9h00, como o Museu Afro Brasileiro, o principal objetivo da nossa visita, estava fechado fomos conhecer outros pontos da cidade.

Capela de Bom Jesus dos Navegantes
   Visitamos primeiramente a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, localizada na Rua do Sagrado Coração de Jesus. A seguir fomos à outra igreja, está no alto de uma ladeira e depois de muito subir chegamos a Igreja do Bonfim, que passou por uma grande reforma no século XIX devido a um incêndio que a destruiu parcialmente. Do alto dela é possível ter uma ampla visão da região do Vale do Cotinguiba. Dela também podemos observar a Capela de Bom Jesus dos Navegantes que está localizada na Colina do Bom Jesus, ponto alto da cidade. Sua fachada apresenta características do barroco brasileiro do século XIX, embora a Igreja tenha sido inaugurada no ano de 1908.


Câmara Municipal
Após descermos fomos ao centro da cidade, onde passamos em frente da Câmara Municipal e como já estava na hora da abertura do Museu da Cultura-Afro nos direcionamos a ele. No caminho encontramos um menino, ou melhor, ele nos encontrou, tinha, aproximadamente doze anos e disse que seu nome era “Carlinhos”. Ele conhecia, praticamente, tudo na cidade e nos deu uma “aula” sobre os locais abandonados, ao nosso redor e sobre tudo que encontrávamos no caminho.







Igreja do "Galo"
                Primeiro falou sobre a Igreja dos Homens Pardos e Livres, esta mais conhecida como Igreja do “galo” que foi construída no século XIX, pelos homens pardos e tornou-se centro de devoção a Nossa Senhora da Conceição. 
A esquerda o Hospital abandonado e a direita o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Laranjeiras


















         A seguir sobre a antiga Maçonaria e um Hospital abandonado, que fica ao lado do atual Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Laranjeiras, sobre o hospital, o menino fala que Lampião esteve lá e precisou de tratamento em seu olho. Como fora tratado muito bem prometeu não invadir a cidade e protegê-la. 
Carlinhos nosso "guia mirim"
Nossa última parada foi no Museu, lá nos despedimos do menino e perguntei como ele aprendera tantas coisas e ele respondeu que quando as “turmas”, das escolas, universidades, ou simplesmente turistas iam para lá ele ficava prestando atenção nas explicações dadas pelos guias e aprendeu assim, só ouvindo. Disse que quando crescer quer ser um verdadeiro guia, já que atualmente é um “guia mirim”.

                
 Na entrada do Museu Afro Brasileiro há algumas placas, uma de quando fora inaugurado (1976) e outra de quando fora restaurado (1991). O sobrado construído no século XIX pertenceu à Família Brandão detentora do Cartório que funcionava no pavimento térreo.  Tornou-se Museu Afro em 1976 e possui peças que ilustram o período escravocrata além de representar a cultura afro nas suas mais variadas formas. 


Instrumentos de
tortura
Objetos da casa dos senhores de engenho
Lá havia uma guia que nos explicara as manifestações cultural-religiosas dos negros. Ela nos levou a algumas salas, uma delas era sobre os instrumentos de tortura, outra era a sala de economia açucareira, que fora a principal atividade econômica da cidade no século XIX. Vimos ainda o vestido utilizado pelas mulheres negras, além de instrumentos usados nas casas dos senhores de engenho, como por exemplo, pilão e panelas de madeira, candeeiros, alguns móveis como cama, “cadeira de arruar” e cadeiras e mesa de centro.

Quadro representando Lambe Sujo X
Caboclinhos
A seguir vimos quadros que representavam algumas manifestações, como o Lambe-Sujo e Cacumbi. A guia nos falou sobre as crenças religiosas dos negros, dando ênfase aos Orixás e o significado deles, por exemplo, ÈXÚ (Exu), é representado pelas cores vermelha e preta. Ele é um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna defini-lo de maneira “coerente”. ÒSÓÒSI (Oxóssi), representado pela cor verde, ele é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam Orixá da fartura e da riqueza. OSÀLÀ (Oxála) é o detentor do poder genitor masculino e todas as suas representações incluem o branco. YEMOJA (Iemanjá), representado pela cor azul, transparente e branco, é o Orixá dos Egbá, uma nação ioruba estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde ainda existe o rio Yemoja. Este Orixá é considerado a Mãe de todos, a senhora de todas as cabeças.
Orixás
A guia explica sobre as religiões afro-brasileiras em Laranjeiras citando a Irmandade Santa Bárbara Virgem e os Filhos de Obá. O terreiro Santa Bárbara Virgem, representaria a continuidade de um terreiro dos antigos escravos africanos, dos quais descendia a chefe crioula, Umbilina de Araújo, que o dirigiu por mais de cinquenta anos seguindo sempre a tradição recebida dos ancestrais nagôs. No terreiro dos Filhos de Obá o dirigente, Alexandre da Silva, teria não apenas atualizado a tradição dos nagôs e outras nações africanas através da Bahia, mas também incorporou ao terreiro o culto dos caboclos. Sua influência na formação de outros terreiros da cidade é inquestionável. 
Cadeira do Babalorixá
Ela ainda comenta sobre as oferendas e nos apresenta alguns instrumentos utilizados nos rituais. Mostra também a cadeira que pertenceu ao Babalorixá Gilberto da Silva, o , e fala sobre a sua importância e do terreiro Oxóssi Tauamim. Seu antes mesmo de passar pelo ritual de iniciação Candomblé se dedicou ao culto de suas entidades espirituais. Somente na década de 1950 é que foi iniciado no Candomblé de Angola, sendo seu terreiro denominado “Oxóssi Tauamim”. Atualmente parte do acervo que o Museu possui pertenceu a Lê, principalmente as peças de metal, que correspondem a peças utilizadas na indumentária dos Orixás. faleceu em 12 de junho de 1999, sendo considerado um importante Babalorixá do Candomblé Sergipano contribuindo para o processo de legitimação e institucionalização das religiões afro-brasileiras no Estado.
                                                         
Igreja Presbiteriana
    Por fim, ao sairmos do Museu, passamos na frente da Igreja Presbiteriana, está inaugurada em 19 de novembro de 1899 após uma série de incidentes entre católicos e protestantes iniciados em 1844 e agravaram-se quando o pastor norte-americano Alexander Latiner Blackford, após visitas a Laranjeiras, fundou a primeira Igreja Presbiteriana em Sergipe, na Rua Comandaroba. Até hoje a Igreja mantém todas as suas atividades. 


            

sábado, 5 de maio de 2012

Relatório do Seminário: ÍNDIOS EM SERGIPE E ÍNDIOS XOKÓ (HOJE)


Comissão Organizadora: Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza DHI/UFS
Cacilda Missias de Jesus Santiago
Leandro Souza de Oliveira
Marina Leite Suzart
Marcos Paulo Carvalho Lima

      Este Seminário, que ocorreu entre os dias 19 e 20 de abril, do presente no ano, no auditório de Geografia, da Universidade Federal de Sergipe, vem dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos, por exemplo, nas obras de Beatriz Gois Dantas, Felisbelo Freire, Clodomir Silva, nais quais o foco é a história dos índios, em Sergipe, esta marcada pela violência praticada pelos colonizadores europeus. Em seu primeiro dia, o professor, Dr. Antônio Lindvaldo Souza, faz uma abertura das palestras, na qual falou sobre o grupo de pesquisa GPCIR, e fez uma apresentação, emocionada, de Beatriz Gois Dantas, citando sua a importância ao criar um capítulo no livro de História de Sergpe, reservado aos índios.

Professora Beatriz Gois Dantas

      A temática das palestras, no primeiro dia, era a História dos índios em Sergipe. E teve como primeira palestrante a professora Beatriz Gois Dantas, cuja apresentação se baseia no livro Textos para a História de Sergipe, este sorteado ao fim deste primeiro dia. Ela começa falando da percepção dos europeus e faz a diferenciação entre tupis e tapuias, fala, ainda, sobre a diversidade linguística e cultural, ou seja, o mosaico dos povos. Depois cita os grupos indígenas de Sergipe, entre os séculos, XVI e XX, dentre esses os Aramuru, Boimi, Kaxagó e Tupinambá. Ela comenta sobre a importância dos textos e iconografias de cronistas e missionários em ‘reconstituir’ o modo de vida dos povos indígenas.  Um ponto que não pode deixar de ser citado de sua apresentação se trata do ‘Encontro x Confronto’ entre os índios e europeus, nesse contexto ela cita o registro de André Thevet.

      Outro assunto abordado pela professora diz respeito ao projeto colonial e os índios sobre três perspectivas: 1º Mão-de-obra; escravos, 2º Almas para Deus e 3º Conquista e defesa do território, seria o índio visto ‘militarmente’. Nesse sentido, aborda o fracasso na tentativa de catequese e começa a falar de 1590, o marco da conquista. E então a visão de vencedores e vencidos. Entra no assunto das missões, esta como espaço de cristianização, com o intuito de transformar índios pagãos em cristãos. Explicando como essas, missões, afetaram a sociedade colonial de forma política, econômica, militarmente e também o aspecto sociocultural.
       Por fim os índios no século XIX são reconhecidos pelo Estado. E cita as missões de São Pedro, atualmente aréa dos Xokó, Japaratuba, Aldeia de Água Azeda e a Vila dos índios de Tomar do Geru. Sendo que a partir de 1850, com a Lei de Terras, ocorre o ‘desaparecimento dos índios’ eles utilizam a ‘mestiçagem' como mecanismo de negação da existência dos índios. Nesse contexto o caso dos índios Xokó é o mais comentando pela professora.

        Na segunda palestra da noite, Pedro Abelardo explica como fora a catequese e a civilização dos índios durante o Império, comenta sobre o porque da extinção dos aldeamentos e o projeto de Bonifácio para os índios e escravos. A última palestra, feita por Whitney Fernandes teve por objetivo identificar as reações dos índios de Pacatuba durante o processo de usurpação e apropriação de suas terras.
 
          O último dia de palestras, dia 20, cuja temática foi sobre Identidade e Luta do povo Xokó teve a participação de Avelar Araújo Santos Junior e Apolônio Xokó, infelizmente, por motivos de saúde Hélia Maria de Paula Barreto não comparece. 

        Na primeira palestra Avelar Araújo, fala sobre O Movimento Indígena e a Atualização de Suas Pautas de Luta, ele inicia fazendo um panorama atual da população indígena brasileira e seus territórios, são 225 povos que falam cerca de 180 línguas. Nos espaços urbanos vivem mais de 315 mil indígenas. E 688 ‘terras indígenas’(12% do território nacional). Sendo que 167 terras indígenas estão em vias de reconhecimento na FUNAI, e 12 etnias esperam a demarcação de suas terras.
Segue fazendo um histórico sobre a resistência indígena, comentando a dinâmica resistência/dominação, e casos específicos como a Confederação dos Tamolos e Confederação dos Cariri.
Em suas considerações finais chega a conclusão de que a luta pela terra é centralidade e através disso é possível chegar a participação em outras causas sociais, étnicas e ambientais.

Apôlonio Xokó
         A última palestra, foi de Apôlonio Xokó, considerada por muitos a mais emocionante, por que afinal não era uma palestra qualquer e sim um depoimento de quem acompanhou, de perto, diversas situações, sendo a principal delas, a ‘luta pelas terras’. Ele com seu jeito descontraído fala de assuntos tão sérios e nos faz entender que eles não invadiram ou ‘tomaram’ as terras de ninguém. Comenta ainda diversas situações em que teve sua vida em risco, devido a luta pelo reconhecimento das terras dos Xokó. Por fim, é notável a gratidão que ele, em nome de seu povo, demonstra para com a Universidade Federal de Sergipe, já que esta teve um importante papel em sua luta, principalmente, com a professora Beatriz Gois Dantas. 


           Um Seminário como este é importante para que as gerações não esqueça dos 'primeiros habitantes' e que eles passaram e ainda passam por problemas ao se afirmarem na sociedade, em se tratando nos índios Xokó. É necessário que eventos assim aconteçam para que ao conhecerem sua cultura passem a respeitá-los, não por serem povos indígenas sofredores e sim por serem o Povo Xokó. Sendo importante ressaltar que o estudo da história dos povos indígenas é fundamental para que se possa compreender a história sergipana. Pois não há como negar a contribuição desses povos na formação social e cultural da nossa sociedade.